Campanha experimental
A campanha experimental que pretende recolher dados de radiação solar em Portugal teve início em junho de 2023. Numa primeira análise, os dados recolhidos pelos cientistas-cidadãos que se atreveram a participar no projeto, revelaram-se encorajadores.
Os testemunhos dos cientistas-cidadãos que, entretanto, terminaram a sua experiência no projeto Carros Solares salientam o interesse em participar no projeto, aprendendo mais sobre energia solar e mobilidade elétrica, relatando até alguns episódios caricatos: “Num dos dias, um autocarro a circular atrás do meu veículo alertou-me para algo de anormal no meu carro. Quando parei, reparei que se referia à presença do sensor e de um painel solar no tejadilho”, relatou um dos cientistas-cidadãos do projeto.
Um dos princípios de projetos de ciência-cidadã é que a participação de cidadãos em tarefas de investigação cientifica possa gerar algum benefício para estes, como tal, quisemos saber o que os nossos cientistas-cidadãos nos tinham a contar sobre este assunto ao qual estes afirmaram que tomaram “conhecimento dos valores médios de radiação coletada por dia e o seu significado relativo” ou ainda que entenderam “a importância de se considerar a energia solar para a construção de veículos elétricos ou plug-in”.
Para alguns, a experiência de angariar dados para um projeto científico chegou ao fim, mas a campanha está longe de terminar; cinco sensores (os famosos jinies) continuam a circular em veículos de cidadãos-cientistas por todo o país a medir o potencial dos veículos solares.
Alguns Resultados Preliminares
A maioria dos veículos fica estacionada a maior parte do tempo, principalmente no final do dia. Podemos observar que estado de condução/estacionamento dos veículos em diferentes horários do dia (das 7h00 às 21h00) (Figura 2). A frequência do veículo em andamento é mostrada a verde-escuro e estacionado a verde-claro. A avaliação do estado do veículo é determinada por comparação de registos sucessivos da localização do veículo.
Grande dispersão dos dados, com perdas menores nos horários de pico ao meio-dia, mas muito significativas nas primeiras e últimas horas do dia. Este comportamento é típico para veículos estacionados próximos de edifícios. Na figura podemos observar a perda de irradiação em diferentes horários do dia (das 7h às 20h) (Figura 3). Os gráficos representam a mediana e os quartis superior e inferior (e, portanto, metade dos eventos estão representados dentro dos retângulos), enquanto a linha verde representa a perda média de irradiação para uma determinada hora do dia.
A autonomia solar tem a esperada variação sazonal, significativa no verão, mas inferior a 10 km/kWp/dia no inverno. A mediana de 14,1 km/kWp/dia pode ser comparada com a mediana da distância percorrida diariamente de 40,7 km/dia, ou seja, os resultados mostram que a fração solar é cerca de 35%. A figura representa a autonomia solar (solar range) para um sistema PV com 1 kWp instalado (cerca de 4 m2, dependendo da tecnologia dos módulos) determinada a partir de medições de irradiância. A linha verde é a média mensal.